28 abril 2007

Missionários de Huambo visitam a Sibapa

Atuantes na Angola, os missionários Valmir e Lídia estiveram em algumas igrejas de Palmas e cederam entrevista ao Informativo Sibapa.

Pastor Walmir e Lídia
Os missionários pastor Walmir e sua esposa Lídia
Encerrada a Campanha de Missões Mundiais, Pastor Walmir e Lídia, missionários brasileiros da JMM (Junta de Missões Mundiais), em Huambo – Angola, vieram ao Tocantins para trazer informações sobre o campo e reforçar o incentivo ao trabalho missionário.

O casal está no Brasil desde dezembro de 2006 para fazer exames médicos, regularizar visto de residência e, principalmente, levantar sustento missionário através do PAM (Programa de Adoção Missionária).

Em Palmas, os missionários foram recebidos pela Sibapa e estiveram no culto de sábado à noite e domingo pela manhã falando sobre o trabalho que é desenvolvido em Huambo. Eles ensinaram músicas na língua nativa dos angolanos, o umbundo, e contaram experiências pessoais de ministério. O casal também mostrou um vídeo com imagens da cidade e do culto realizado pela Igreja Batista do Capango que chega a ter duração de 6 horas, porque o culto é narrado em Português e em Umbundo.

Em entrevista, Pastor Walmir e Lídia falaram da cultura e desafios da Igreja em Huambo.

Sibapa: Você sofreram algum choque cultural?

Pastor Walmir: Pra mim, o maior choque cultural ainda é a questão do impacto da guerra naquele país. Você sai de um contexto que tem uma infra-estrutura de urbanização, saneamento, tratamento de água e você vai pra um lugar que você quase não tem nada, já é um choque cultural. Mas a alimentação e o idioma, falar na língua da etnia é um processo de adaptação que não se resolve em alguns meses, leva anos.

Lídia: Cultura, organização familiar, comunidade, tudo isso é um choque pra gente. Nós ainda estamos nos adaptando.


Sibapa: Em algum momento vocês pensaram em voltar?

Pastor Walmir: Voltar? Acho que eu pensei em não ir. Quando nós começamos a ver a cidade e o que tínhamos lá e quando fomos pela primeira vez para conhecer, humanamente a decisão é: não sou doido, não vou vir para cá. A gente vai por obediência ao Senhor, com o coração disposto a obedecer, a ser benção no lugar. Mas a olho humano você pensa duas vezes em não ir.


Sibapa: Como é o culto na Igreja do Capango?

Lídia: Quando fomos lá para conhecer achamos muito diferente do nosso, mas ao mesmo tempo nos encantamos com a forma que eles cultuam e em todos os cultos a gente chorava, porque, apesar de todas as dificuldades que eles passam é uma alegria muito grande servir a Deus e em ofertar tanto a vida quanto o que têm. A forma de culto é muito dançante com muitas palmas, muita alegria. Nenhum culto é como o nosso de introspecção, é uma festa mesmo.

Pastor Walmir: Cantamos em português e em umbundo. Prego em português, então tem um interprete. Na EBD (Escola Bíblica Dominical) o professor fala nas duas línguas. A língua oficial é o português de Portugal , mas os mais velhos tem o dialeto étnico. Simultaneamente é falado o dialeto e a lingua oficial e o culto demora muito por conta disso.


Sibapa: É verdade que o culto chega a durar seis horas?

Lídia: Tem hora para começar, geralmente às 9h, mas não tem hora para terminar. Pode terminar 12h, 14h, porque lá só tem o culto no domingo durante o dia. À noite as pessoas não costumam sair de casa por falta de energia elétrica. Mesmo que houvesse gerador na igreja não tem como as pessoas transitarem na rua.


Sibapa: E as pessoas não acham o culto demorado ou cansativo?

Lídia: Não, pelo contrário, elas continuam com o mesmo entusiasmo que começaram o culto até o final e as crianças continuam na mesma reverência.

Pastor Walmir: E a alimentação só acontece depois do culto. No dia que tem assembléia começa às 9h e vai termina as 17h.


Sibapa: Como é realizado o trabalho de evangelismo?

Pastor Walmir: Nós trabalhamos com treinamento de líderes. Durante a semana, o evangelismo acontece através do curso de alfabetização. No seminário de treinamento de líderes abrimos as portas para funcionar um núcleo de alfabetização para jovens e adultos. Neste trabalho usamos a cartilha que é evangelística também. Ela foi preparada para Moçambique, mas foi adaptada para os países africanos de língua portuguesa. Nos finais de semana, tem-se o trabalho de evangelização e treinamento de líderes nas aldeias, um projeto desenvolvido pela missionária Cristiane, que está lá há 7 anos, e nós vamos cooperar com ele.

Lídia: O trabalho de evangelização é um pouco diferente. Não precisamos ir de porta em porta convidando as pessoas para ir a igreja, elas vão voluntariamente. Durante os cultos os templos são cheio de visitantes, de 200 pessoas 30 são da igreja o outros são visitantes.


Sibapa: Então não há nenhum tipo de resistência?

Pastor Walmir: Os batistas são o grupo evangélico mais forte. No tempo da guerra quem ficou na cidade foi a missionária dos batistas, a missionária Analzira, o trabalho dela foi um marco na evangelização daquela cidade. Agora que ela está no Brasil, o que precisamos é manter acesa a chama e darmos continuidade para que eles possam se alto gerenciar.


Sibapa: A igreja possui departamentos?

Lídia: Temos um coro de adultos, a maioria mulheres, mas não é bem departamento. Temos também um grupo de jovens que se reúnem em um dia para fazer discipulado e no outro para coreogrfia. Não há um trabalho ainda, porque não temos liderança. Temos muitas pessoas que se convertem, por isso a importância do nosso trabalho lá: treinar líderes para trabalhar com grupos específicos como crianças, EBD, jovens, mca (mulheres cristãs em ação)...


Sibapa: Quais são os atuais desafios da Igreja Batista em Huambo?

Pastor Walmir: Eles têm uma cultura anemista. Receberam o catolicismo como religião oficial imposta, mas tem a cultura de invocação dos espíritos. Eles invocam os espiritos não com incorporação no Brasil, mas acreditam em espíritos acestrais. Então há pessoas que se convertem e não sabemos se ela está orando somente a Deus; temos dificuldade em saber se foi uma conversam genuína, porque eles recebem bem a mensagem de Jesus, mas colocam Jesus como mais um espírito.

Lídia: Precisamos de uma liderança que seja treinada, principalmente para trabalhar com crianças, são elas que vão mudar o anemismo.

Pastor Walmir: Um casal em Huambo chega a ter mais de 15 filhos, por causa da baixa estimativa de vida, mas nunca foi investido em crianças (espiritual, físico, nutricional, escolaridade). Também temos muitas crianças deficiêntes, para cada dez, uma é especial.

Lídia: Precisamos da ajuda dos Batistas Brasileiros para mandarem pessoas treinadas para esse tipo de trabalho, precisamos que mandem fonoaudiólogos. Estamos desenvolvendo libras e linguagem de sinais, só nós temos esse projeto em Huambo.


Sibapa: Você têm alguma consideração a acrescentar?

Pastor Walmir e Lídia: Sukuakussumuluisse - Deus os abençoe